quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

É preciso imaginar Sísifo feliz!

Foram necessários quase cinqüenta anos para que eu pudesse me encontrar com aquilo que sem se saber desejo, eu sempre desejei ser. Foram necessários quase cinqüenta anos quanto tempo perdido, quanto tempo vivido para que eu pudesse, face a face, olhar para tudo o que vivi com os olhos conhecidos, de quem se encontra com um velho amigo. Enigma decifrado, resta-me sem nenhum louvor, sem nenhum favor, fazer-me responsável por tudo que fiz, por tudo que quis, e o que, por demais, não soube ou não suportei saber. Que fronteira inexorável, encontrar-me assim tão próximo de um ser, obra minha, que sendo aquilo que é, não pode tributar a outrem, as motivações que são só suas. Saber-me, entretanto, virtudes e danos, pequenas qualidades e abismais defeitos, não encerra balanço aberto, e tampouco me faz menos compelido aos atos como seria mais conveniente a um homem de quase cinqüenta anos.

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