"Não entendi muito bem o que você me falava. Havia um descompasso entre o movimento dos seus lábios, seus olhos assustados e o tom calmo da sua voz. Só depois caiu a ficha: você estava me dando adeus... se fechar. Um piscar dos olhos meus e você já tinha ido.. ando os cheiros do corpo, o gosto da saliva ou do suor, a imagem invertida de nós mesmos...
que biológica... Mas na hora do adeus é o corpo que paga por esse estado de alienação. faziam bem. Então fiquei muito enjoado e comecei a vomitar..."
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Lisboa dividida.
Às margens do Rio Tejo, medito.
Meu pensamento é quase um grito.
Ó alma divida, assim Lisboa,
como minha alma te vejo
entre o ser e o seria.
Doce no correr do tempo,
ancorado o meu coração,
passivo como um pobre barco,
no Cais do Sodré, ao final do dia.
Cotidiano num fazer sempre tudo igual
como a perene tabuleta de uma tabacaria
"casado, fútil, quotidiano e tributável"
boa companhia, sopa quente e meias,
que mal na inocencia poderia haver, afinal?
Outro tempestade, disso tudo distinto,
raivoso de si, sem motivo aparente
um "doido, com todo o direito a sê-lo"
sou em Lisboa, as pequenas janelas de uma cave
de onde vejo e ignoro todo o movimento,
que vem de fora, das formigas humanas
que te invadem as praças e monumentos.
Outro, outro, silencios gozozos,
imensos e profundos, furia espiritual, pura volupia,
frugalidade de sentimentos, hostias do pensamento
um pastelzinho de Belem, vale tanto quanto uma mulher,
quanto filhos e quanto ter um lar?
Desertar-me de toda convenção,
declarar-me um sem patria, um sem nação,
errante, mergulhar profundamente nessa indisposição
aceitar que ela me leve ao fundo,
consuma-me ao ponto em que
um calice de vinho do Porto,
seja toda rendição.
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