sábado, 10 de março de 2007
Nua pergunta.
Você, diante de mim,
parada nua, me interpela.
Quer saber em sua nudez perplexa,
diante de mim, atônito,
do que eu nunca soube,
jamais.
O desejo que escorre
dos seus olhos
desce doce
e empoça no umbigo.
Pinga em gotas de perguntas
que eu não sei responder.
Percorro ansioso com meus olhos,
as suas formas,
com as pontas dos dedos,
tateio o risco das letras
que o seu corpo desenha
e que não sei decifrar.
Percorrem minhas narinas
todos os cheiros
que em verdes pastagens
me convidam
para em ti descansar.
Bebo em tua fonte.
Deito a minha língua
no teu cantil.
Sorvo sôfrego, delicias
que nem sei nominar.
O que queres de mim mulher,
mais do que te posso dar ?
Se o que me perguntas
é o que não sabes responder,
por que estimas que eu tenha
para ti, resposta a oferecer?
Pois de tudo que pude saber,
o teu desejo não cala,
mas também não sabe falar.
domingo, 4 de março de 2007
Transverso
Delicadas as fronteiras dos mundos em que habito e que, de um lado para o outro, sem perceber transito. Neles as coisas podem ser e não ser quase ao mesmo tempo, a depender somente das escolhas que fazemos, das cores que escolhemos, para cobrir a matéria fina do pensamento. Porque o que parece importar as vezes não tem importância própria. Mero pretexto, cenário ou trama, para exercitar o verdadeiro drama de se fazer escolhas e aprender com elas... O que será de nós, Ó minha senhora, que de escolha em escolha nos enredamos, se delas perdermos os seus sentidos, e esquecidos dos seus verdadeiros motivos, nos distraímos com aquilo que elas parecem ser? Sublime então o desafio de viver ao mesmo tempo sustentando o gosto das escolhas que fazemos e o fazer das escolhas que gostamos... Sendo ao mesmo tempo, ator e autor, da peça que vivendo escrevemos... Representando os sentidos que quaisquer outros, outros poderiam ser mas, que, sendo estes aqueles que escolhemos, nos fazem definitivamente ao vivê-los, eternamente responsáveis pelo que vivemos... O que será de nós minha senhora, é coisa que eu não sei... Mas eternamente nós seremos, responsáveis pelo que vivemos, e pelas escolhas que fazemos.
Esquinas da perdição.
Uma estranha calma me invade
quando beijo a esquina da sua boca,
ali, onde os seus lábios vão se encontrar.
E nela me deixo ficar demorado,
sentido uma leve emoção,
seguindo um fio que me leva ao limbo,
ou as escadarias do céu, não sei muito bem,
mas sei que é muito bom.
Reside naquele ponto um mistério,
que é o mistério das esquinas,
do mesmo tipo que encontro
quando topógrafo pelado
com a vista larga demarco,
desde o alto da colina,
o falso risco que corta a sua virilha,
e separa o travesseiro macio do púbis
das duas avenidas largas e suaves
onde fronteira não sei situar:
são as sua coxas grossas que começam
ou suas longas pernas que terminam?
Amo essas suas esquinas, menina,
oh, como as amo!
Onde as coisas são,
e ao mesmo tempo não são,
e nelas gosto de estar.
Amo essas suas confluências,
lugares de maciez permanente
suavidade de textura
calor morno, quase molhado
onde o liso e o doce convidam
para a ruína do tempo
e para a perda definitiva
de qualquer perspectiva.
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