quinta-feira, 8 de maio de 2008

Já não temos mais na noite os bebados inconvenientes a desafiar, raivosos e falastrões, ao coro dos contentes. Bebados que param o trânsito do bar, que vociferam, chamam de todos a atenção para a sua desconformidade para com a ordem das coisas. Ordem injusta e opressora que nos inclui a todos sonâmbulos e dóceis, a qual aceitamos e fingimos não ver. Hoje pululam os bêbados, solitários ou não, silenciosos sempre sofrem calados, culpados, afogam as mágoas no alcool mas não perturbam a ninguém. Já não se fazem mais bebados como os de antigamente.

Não me faltam os que me repreendam Inclusive uma parte de mim mesmo: És um presunçoso, repetem-me, repito-me. Queres demais, ó inseto, chamado homem De uma vida que nunca te fez essas promessas. Reivindicas como uma fera ferida, Paraísos de encontros, vozes cálidas que te ouçam sempre Regaço morno que te acolha E que nunca te digam não. E tornas este quadro mais patético, ao insistires nesse equivoco maior deste estado de engano geral que não reconheces, como a vida, a tua própria: Querer que o que tu queres, Seja-te dado, ó, por um outro humano, por um outro humano. Desejo insano! Que eles não são feitos para dar, antes, são, como tu, que te julgas neste momento, estares lá no alto,acima dos demais. O que queres, não é senão o que todos querem, Só delicias e cousas e tais, Querem o tempo todo, como tu: Sempre receber, receber, receber, ingratos e insaciáveis sugadores de tudo o que lhes pode dar o maior prazer, ter do outro, o tudo igual, o tudo total, que à ninguém se dispõem à dar.