Já não temos mais na noite
os bebados inconvenientes
a desafiar, raivosos e falastrões,
ao coro dos contentes.
Bebados que param o trânsito
do bar, que vociferam, chamam
de todos a atenção
para a sua desconformidade
para com a ordem das coisas.
Ordem injusta e opressora
que nos inclui a todos
sonâmbulos e dóceis,
a qual aceitamos
e fingimos não ver.
Hoje pululam os bêbados,
solitários ou não,
silenciosos sempre
sofrem calados, culpados,
afogam as mágoas no alcool
mas não perturbam a ninguém.
Já não se fazem mais bebados
como os de antigamente.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Não me faltam os que me repreendam
Inclusive uma parte de mim mesmo:
És um presunçoso, repetem-me, repito-me.
Queres demais, ó inseto, chamado homem
De uma vida que nunca te fez essas promessas.
Reivindicas como uma fera ferida,
Paraísos de encontros,
vozes cálidas que te ouçam sempre
Regaço morno que te acolha
E que nunca te digam não.
E tornas este quadro mais patético,
ao insistires nesse equivoco maior
deste estado de engano geral
que não reconheces, como a vida, a tua própria:
Querer que o que tu queres,
Seja-te dado, ó, por um outro humano,
por um outro humano. Desejo insano!
Que eles não são feitos para dar,
antes, são, como tu,
que te julgas neste momento,
estares lá no alto,acima dos demais.
O que queres, não é senão o que todos querem,
Só delicias e cousas e tais,
Querem o tempo todo, como tu:
Sempre receber, receber, receber,
ingratos e insaciáveis sugadores
de tudo o que lhes pode dar o maior prazer,
ter do outro, o tudo igual, o tudo total,
que à ninguém se dispõem à dar.
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