quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

É preciso imaginar Sísifo feliz!

Foram necessários quase cinqüenta anos para que eu pudesse me encontrar com aquilo que sem se saber desejo, eu sempre desejei ser. Foram necessários quase cinqüenta anos quanto tempo perdido, quanto tempo vivido para que eu pudesse, face a face, olhar para tudo o que vivi com os olhos conhecidos, de quem se encontra com um velho amigo. Enigma decifrado, resta-me sem nenhum louvor, sem nenhum favor, fazer-me responsável por tudo que fiz, por tudo que quis, e o que, por demais, não soube ou não suportei saber. Que fronteira inexorável, encontrar-me assim tão próximo de um ser, obra minha, que sendo aquilo que é, não pode tributar a outrem, as motivações que são só suas. Saber-me, entretanto, virtudes e danos, pequenas qualidades e abismais defeitos, não encerra balanço aberto, e tampouco me faz menos compelido aos atos como seria mais conveniente a um homem de quase cinqüenta anos.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

De quem será, cuidado? Fico sempre tão impressionado com o muito muito que se faz do pouco pouco que é dado. Do residir assombrado que germina assim, tão frágil semente ganhando vulto em solo adubado. De quem será, do semeador, do semeado? Vivo a pergunta do mérito, da relação entre os dois, Cuidado.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Fundo de Mulher

Retirem-se as crianças da sala e também aos puritanos pois o poema abaixo contem elementos que podem ofender sensibilidades moralistas
Boceta não tem fundo! Ensina-me, num fim de tarde, num café grego em Atenas, com elegancia uma amiga. Traduz sabedoria ancestral herdada do bom senso de um avô. Paciente, explica e esclarece, essa singela verdade, masculinamente ignorada, por nós, tantos e vários varões saltitantes de uma para outra buscadores dessa quimera o fundo fundo de uma mulher. Não tem fundo, insiste ela, não adianta procurar mulher é bicho ôco, todas elas e qualquer uma, ainda que nem sempre o saibam e finjam outras ignorar. Boceta é abismo e precipicio pra mergulhar com coragem sem ter medo de morrer. Não tem fundo. Quanto tempo perdido, reflito na pressa masculina de ali se instalar causados da ansiedade de fundo, no fundo da mulher não encontrar. Onde começa, onde acaba este ser túnel que se perfura todo dia ontem, hoje, amanhã num eterno recomeçar. Quanta ilusão destilada, quanto medo de errar quantas mulheres esquecidas distantes elas mesmas de sua verdade elementar. Não tem fundo ! Boceta não tem fundo, repete a amiga, não adianta procurar. Se acalmem todos os homens mulheres, não há porque se envergonhar não ter fundo não é defeito fonte do profundo mistério, impossivel, mulher decifrar.