
Boceta não tem fundo!
Ensina-me, num fim de tarde,
num café grego em Atenas,
com elegancia uma amiga.
Traduz sabedoria ancestral
herdada do bom senso de um avô.
Paciente, explica e esclarece,
essa singela verdade,
masculinamente ignorada,
por nós, tantos e vários varões
saltitantes de uma para outra
buscadores dessa quimera
o fundo fundo de uma mulher.
Não tem fundo, insiste ela,
não adianta procurar
mulher é bicho ôco,
todas elas e qualquer uma,
ainda que nem sempre o saibam
e finjam outras ignorar.
Boceta é abismo e precipicio
pra mergulhar com coragem
sem ter medo de morrer.
Não tem fundo.
Quanto tempo perdido, reflito
na pressa masculina de ali se instalar
causados da ansiedade de fundo,
no fundo da mulher não encontrar.
Onde começa, onde acaba este ser
túnel que se perfura todo dia
ontem, hoje, amanhã
num eterno recomeçar.
Quanta ilusão destilada,
quanto medo de errar
quantas mulheres esquecidas
distantes elas mesmas
de sua verdade elementar.
Não tem fundo !
Boceta não tem fundo,
repete a amiga,
não adianta procurar.
Se acalmem todos os homens
mulheres, não há porque se envergonhar
não ter fundo não é defeito
fonte do profundo mistério,
impossivel, mulher decifrar.
Um comentário:
Esse poema "Fundo de mulher" é bárbaro, devaniei pelas letras, me fez lembrar o filme de Pedro Almodovar - Hable con Ella - quando o enfermeiro entra em Katerina. A cena é cômica mas também consegue transmitir a sensualidade e o mistério da mulher, assim como o poema...lindo!
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