sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mulher Champagne






O que queres, me perguntas assim de chofre
enquanto me esforço como posso
com um  tosco saca rolhas
tento abrir o vinho para a refeição.
E do acído em que transformas o jantar
em mais um momento tenso e sem tesão
extraio de imediato, certeza e inspiração:.
Eu? Eu quero uma mulher champagne,
Generosa, vibrante, oferecida
ávida por expulsar a rolha
que a tolhe em seu mergulho para a vida
Borbulhante, fresca e refrescante
Como os bons vinhos frisantes:  
frutados, não muito alcoólicos
e sem maiores pretensões.

domingo, 20 de março de 2011

Fé, menina!

 
esse feminino que você tem
assim tão dissimulada
que nem parece querer ser ninguem
que não seja aquela que você é
como se fosse tudo pura brincadeira
de se fazer querer pela sugestão
de um mais além, do seu ser
(vai saber, quem?)
Esse feminino mesmo
me assanha a sanha
de olhar por debaixo da sua saia
só para te ver corar de falsa vergonha,
desvelando o segredo da cuidadosa cor
escolhida hoje, mais para enfeitar
do que para cobrir a sua preciosa flor.
conversar com você, olhando para que você veja
que eu olho para o vê do seu decote
atento ao encontro dos seus alvos montes
que mostras como se eles não te pertencesssem
e não estivessem ali com o unico proposito
de estar à disposição de meu escandaloso olhar.
este teu feminino dos corpetes bordados
com traços tão ingenuos e pueris,
a despeito dos ares de muher madura e culta
com que preferes me inspirar,
nas unhas pintadas de um vermelho tão forte
que só mais ressaltam, o tom tão alvo
da pele de sua mão e de toda mais pele,
pressumo, via lactea ocultada,
corpo vestido a olhos nús.
este feminino dos olhos teus,  da cor de mel
que olham sem olhar, me atiçam 
por debaixo dessas molduras,
negras e grossas sombrancelhas e parecem pedir,
parecem querer um homem que te faça mulher
que arranque de ti o teu saber sobre o silêncio
fazendo ecoar, aos badalos do sino,
as sinfonias mais raras, tocadas por suas carnes trêmulas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

mandacaru sem flor

 

cacimba seca, útero retorcido
vazio se encontra o meu saco de palavras
como se elas me fossem completas estranhas
e nenhuma nunca houvesse me habitado
nas entranhas: zero intimidade entre nós.
entre elas e eu, mandacaru solitário
que espera em vão, a beleza da branca flor,
que até mesmo a brasa do sol estéril
faz parir para alegrar o cinzento do sertão.
cinzas no meu coração calcinado,
secura na alma, aridez do cotidiano
monotonia do sempre igual, umidades raras
ah! que saudades da umidade
tempos de coloridas emoções
entusiasmos pueris, sentido de pertencer,
pertencer a um mundo cheio de sentidos.
Mas eu ,eu por ora, não sinto nada
e escrever estes versos, puro sacrilégio
de quem escreve, burocrata da palavra,
só para não ser expulso da profissão.
deveriam haver leis que proibissem
estes atos de poetas insensatos
para que toda secura fosse sorvida até o fim
castigo merecido, voto de silencio decretado
para os que, como eu, desdenham do oficio,
quando jorram aos borbotões, invadidos por
sagrada inspiração. perdão! perdão!


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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Mulher Champagne






O que queres, me perguntas assim de chofre
enquanto me esforço como posso
com um  tosco saca rolhas
tento abrir o vinho para a refeição.
E do acído em que transformas o jantar
em mais um momento tenso e sem tesão
extraio de imediato, certeza e inspiração:.
Eu? Eu quero uma mulher champagne,
Generosa, vibrante, oferecida
ávida por expulsar a rolha
que a tolhe em seu mergulho para a vida
Borbulhante, fresca e refrescante
Como os bons vinhos frisantes:  
frutados, não muito alcoólicos
e sem maiores pretensões.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

hiância

noite de lua cheia no céu
eu lobisomem,  jejuo palavras
e lanço uivos densos e enigmáticos
a quem possa se interessar.
sigo os rastros mais ancestrais 
do meu desejo quando criança 
muito pequena, mal aprendera a andar.
neles persigo, como quimera
por quilômetros a fio, na estrada,
sem me saber perdido
o barulho da moto  do meu tio 
que não me levou para passear.
eu que queria tanto, tanto, tanto...
deixo-me ir por aquele caminho
e por aquele som do motor 
que já não escuto mais.
sigo com a certeza  de que, ao fim dele,
um prazer imenso,  me espera, sem igual...
no coração infantil, não existem duvidas
os meus passos miúdos e perseverantes
vão por caminhos que hão de alcançar
o pote de ouro que o arco-iris 
reserva para quem nele acreditar.
amanhã, com ânimo, pego a estrada 
e vou em busca de ti, companheira
tu que tão distante de mim estás. 
distante mas não o bastante 
para que eu desista de te procurar.
hoje é noite de lua cheia
e os meus uivos lancinantes, 
a quem possa se interessar,
uivam por ti, como um dia uivei 
pela moto do meu tio
pelo  gosto de caminhar
pela possibilidade de encontrar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

o segredo de sherazade



havia um sultão glutão
devorador de mulheres
as matava ao fim do festim
uma noite de carne, vinho e jasmim
e a condenada já tinha um fim.
Dizem em seu beneficio
que ele nem sempre fora assim
uma vez amara por demais
deusa linda e traiçoeira
não mereceu a traidora
a dedicação do mandarim
o amor que ele dispunha
transmutou-se em puro sal
nunca mais, jurou para si,
fera ferida, tornou-se mal,
terei dó ou piedade
por quem não teve dó de mim!
Pagarão as justas pela pecadora
agora há que ser assim
o bicho mulher em geral
ficou marcado de morte
uma noite e nada mais
diversão a toda sorte
o coração não se arrisca
do gosto, gostar indevido
um monstro se cultivou
pelo medo de ser  magoado
magoador-mor  se tornou.
a anônima Sherezade
dessa história ficou ciente
dizem alguns, se condoeu
da triste sorte do rei meliante
outros que a fonte era  vingança
de uma amiga devorada
pelo bruto em sua festança
 o movel não se sabe ao certo
exceto das suas virtudes
de além de linda, ser paciente
 tramando em trama urdida
ao bruto se fez oferecida
não temia a dor nem a morte
jogou na sorte com a propria vida.
conduzida ao palacio, desafio
face a face com o devorador,
sentiu que a beleza sua 
o apetite lhe aguçava
mas lhe fez interessar
por uma história que contava
com suspense que dava gosto
e pôs o ponto de amarração
quando o sol já quase brilhava
e sem se  fazer-se brava
disse que mais não contava
aceitava que já era hora da execução
o rei enrolado em seu novelo
entre a promessa a si mesmo feita
e curioso pela história e seu fim
nova noite concedeu,
mas ja foi lhe avisando
uma mais e nada mais
pois com ele , era assim!
com  beleza e esperteza,
a moça não se fez de rogada
disse que lhe contaria o conto
até o fim da madrugada
uma noite e outra mais
sempre a mesma estratagema
as histórias que fiava
uma na outra entremeava
e o sol por testemunha
sempre que ele nascia
ainda tinha história não contada.
noites e noites de fala doce

dizem que mil e uma atravessadas
em tão bom entretenimento
que o rei ja nem se lembrava
do seu torpe juramento
apanhou gosto pela donzela

se nutriu com a formosura

em paixão foi se enredando
e foi como numa travessura
em tal grau de afeição
nada mais ja lhe restava
ao mal fadado decreto
decretou revogação
e pra moça tão esperta
declarou sua paixão.
de histórias que nunca acabam
em tramas bem emendadas
sherazade fez escola
com a sua sabedoria
toda noite quando lhe ouço
as conversas sobre o seu dia
imagino no amanhã 
o que mais me contaria
mais uma noie e mais um dia
e nesse ritmo tão tranquilo
coração meu  de tão fechado
vai se abrindo aos pouquinhos
e vira amor a simpatía.



















 


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Desencontro telurico



Eu sonhei que virias, quando eu menos esperasse
e que, de longe, nem de longe, desta parte,
fosses tão pouco parecida, com alguém,
que eu pudesse imaginar que eras tu,
nem ao menos que eu soubesse 
do tanto que serias para mim tão bem-vinda!
E  por assim sê-la, estranha, em  tua chegada,
tu não me enganarias, querida inesperada
e que, só por isso, eu a reconheceria como tal.

Eu sonhei que seria assim:
que falaríamos de tudo
e não teríamos segredo...
Que riríamos sem medo
de todas as assombrações...

Eu sonhei com prosas intermináveis.
Com um gosto tão grande de estar por perto
que a saudade até se tornasse um estado normal
que cada momento, marcado pelo inexplicável
e pelo mágico  do instante cúmplice,
trouxesse todo o bem e afastasse todo o mal.

Afinal chegaste, te tenho diante de mim.
Surpreso, percebo, que não me reconheces
assim como  de pronto reconheço a ti.
Me olhas,  algo desconfiada,
dialogas com as tagarelices do teu coração.
Sentes sem saber dizer, dizes sem saber sentir.
Sabes que já estiveste em sonhos,
sonhos que não eram os teus
mas que neles te sentias tão feliz,
como quem tivesse estado
naqueles que foram os meus.

Quem acordou e quem ainda dorme,
quem ainda sonha e quem em vigília espera
oh, minha senhora inesperada, já me colocas em apuros
assim, em tua tão breve estada:
como é que eu poderia, com tão  pouca poesia
a ti,  fazer sonhar e manter-te acordada?