quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

hiância

noite de lua cheia no céu
eu lobisomem,  jejuo palavras
e lanço uivos densos e enigmáticos
a quem possa se interessar.
sigo os rastros mais ancestrais 
do meu desejo quando criança 
muito pequena, mal aprendera a andar.
neles persigo, como quimera
por quilômetros a fio, na estrada,
sem me saber perdido
o barulho da moto  do meu tio 
que não me levou para passear.
eu que queria tanto, tanto, tanto...
deixo-me ir por aquele caminho
e por aquele som do motor 
que já não escuto mais.
sigo com a certeza  de que, ao fim dele,
um prazer imenso,  me espera, sem igual...
no coração infantil, não existem duvidas
os meus passos miúdos e perseverantes
vão por caminhos que hão de alcançar
o pote de ouro que o arco-iris 
reserva para quem nele acreditar.
amanhã, com ânimo, pego a estrada 
e vou em busca de ti, companheira
tu que tão distante de mim estás. 
distante mas não o bastante 
para que eu desista de te procurar.
hoje é noite de lua cheia
e os meus uivos lancinantes, 
a quem possa se interessar,
uivam por ti, como um dia uivei 
pela moto do meu tio
pelo  gosto de caminhar
pela possibilidade de encontrar.

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