quinta-feira, 3 de junho de 2010
alter ego
Numa rara aparição visita este blog o alter ego do poeta que o mantém cativo... borracha pura, o papo do cara!
Encaixe
Como uma praga ao vento
O tempo trouxe para as fêmeas da espécie
o esquecimento da arte de se encaixar.
De tudo do bom conquistado
Resgate do outrora usurpado
verdades, direitos, oportunidades,
como um sutil defeito
o tempo também produziu
um total esquecimento da arte de se encaixar.
Tanto para as grandes
quanto para as pequenas
De pé ou deitados no leito,
sempre existia uma forma,
sempre existia um jeito,
sem nada dizer, sem nada explicar
homem e mulher, um só tornados
harmonia pacificada no silencio cúmplice
de um encontro dos corpos,
opaca fonte de toda unidade.
De que servem estes braços fortes
De que servem estes ombros largos
Se neles você não vem se albergar
Se a autonomia te fez esquecer
O quanto é bom ter um ninho cálido
para alienar-se por um par de horas
ou apenas por alguns segundos,
sentir-se protegida, amada, querida.
Se fazer minha, fazer-me seu.
Deixar-se ficar no vão das minhas costelas
Rememorar miticamente que este lugar
Sempre te pertenceu, é, e será sempre seu
Desde as origens, pedaço arrancado
Que encontra de volta o seu lugar
Devolve ao meu corpo a integridade perdida
Completa o desenho deste quebra cabeças
Peça perdida que insistia em faltar.
Dá sentido e traz de volta a alegria a minha vida,
Vem mulher, recobre a sua memória,
Venha em mim se encaixar.
INICIANTE I
Sou poeta a muito pouco,
Do ofício não tenho calos na mão
Dai ser pequena minha poesia,
Poesia de anão.
Sou poeta ainda agora
De um instante fugaz
como o piscar do vagalume
Dai ser serra branda minha poesia
Não ser montanha de alto cume.
Sou poeta pedindo desculpas
por versos perfeitos ainda não ter
Mas afianço-lhes que a minha poesia
é planta nova querendo crescer.
Maio de 1979
INICIANTE II
Escrevo ainda com medo do
tamanho que meus versos possam ter.
Como se receasse de repente
que por vontade mágica eles
se pusessem a crescer.
E no meu coração tão pequeno
tão grandes não fossem caber.
Bobagens de quem não conhece o ofício
Que versos são só versos
Nada que se mereça temer.
É que a poesia é assim mesmo.
Seu uníco risco?
- revelar o meu ser!
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