bóia farol meta em desespero tudo puxa para o fundo dos abismos o mais banal dos instintos rege por total o ser salvar-se para encontrar ponto de apoio sobre-viver emerso ao custo do assassinato do poema quem se importa fazer da palavra poema coisa tão banal constranger as musas deixar em maus lençóis a poesia tratá-la sem pudor mero suporte socorro coisa palavra usada nos ritmos cardíacos renais venais do corpo em desespero que não quer morrer legitima defesa gosto gorduroso da vida
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Encaixe
Como uma praga ao vento
O tempo trouxe para as fêmeas da espécie
o esquecimento da arte de se encaixar.
De tudo do bom conquistado
Resgate do outrora usurpado
verdades, direitos, oportunidades,
como um sutil defeito
o tempo também produziu
um total esquecimento da arte de se encaixar.
Tanto para as grandes
quanto para as pequenas
De pé ou deitados no leito,
sempre existia uma forma,
sempre existia um jeito,
sem nada dizer, sem nada explicar
homem e mulher, um só tornados
harmonia pacificada no silencio cúmplice
de um encontro dos corpos,
opaca fonte de toda unidade.
De que servem estes braços fortes
De que servem estes ombros largos
Se neles você não vem se albergar
Se a autonomia te fez esquecer
O quanto é bom ter um ninho cálido
para alienar-se por um par de horas
ou apenas por alguns segundos,
sentir-se protegida, amada, querida.
Se fazer minha, fazer-me seu.
Deixar-se ficar no vão das minhas costelas
Rememorar miticamente que este lugar
Sempre te pertenceu, é, e será sempre seu
Desde as origens, pedaço arrancado
Que encontra de volta o seu lugar
Devolve ao meu corpo a integridade perdida
Completa o desenho deste quebra cabeças
Peça perdida que insistia em faltar.
Dá sentido e traz de volta a alegria a minha vida,
Vem mulher, recobre a sua memória,
Venha em mim se encaixar.
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