segunda-feira, 14 de março de 2011

mandacaru sem flor

 

cacimba seca, útero retorcido
vazio se encontra o meu saco de palavras
como se elas me fossem completas estranhas
e nenhuma nunca houvesse me habitado
nas entranhas: zero intimidade entre nós.
entre elas e eu, mandacaru solitário
que espera em vão, a beleza da branca flor,
que até mesmo a brasa do sol estéril
faz parir para alegrar o cinzento do sertão.
cinzas no meu coração calcinado,
secura na alma, aridez do cotidiano
monotonia do sempre igual, umidades raras
ah! que saudades da umidade
tempos de coloridas emoções
entusiasmos pueris, sentido de pertencer,
pertencer a um mundo cheio de sentidos.
Mas eu ,eu por ora, não sinto nada
e escrever estes versos, puro sacrilégio
de quem escreve, burocrata da palavra,
só para não ser expulso da profissão.
deveriam haver leis que proibissem
estes atos de poetas insensatos
para que toda secura fosse sorvida até o fim
castigo merecido, voto de silencio decretado
para os que, como eu, desdenham do oficio,
quando jorram aos borbotões, invadidos por
sagrada inspiração. perdão! perdão!


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