segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Lisboa dividida.



Às margens do Rio Tejo, medito.
Meu pensamento é quase um grito.
Ó alma divida, assim Lisboa, 
como minha alma te vejo
entre o ser e o seria.
Doce no correr do tempo,
ancorado o meu coração,
passivo como um pobre barco, 
no Cais do Sodré, ao final do dia.
Cotidiano num fazer sempre tudo igual
como a perene tabuleta de uma tabacaria
"casado, fútil, quotidiano e tributável"
boa companhia, sopa quente e meias,
que mal na inocencia poderia haver, afinal?
Outro tempestade, disso tudo distinto,
 raivoso de si, sem motivo aparente
um "doido, com todo o direito a sê-lo"
sou em Lisboa, as pequenas janelas de uma cave
de onde vejo e ignoro todo o movimento, 
que vem de fora, das formigas humanas
que te invadem as praças e monumentos.
Outro, outro,  silencios gozozos, 
imensos e profundos, furia espiritual, pura volupia, 
frugalidade de sentimentos, hostias do pensamento
um pastelzinho de Belem, vale tanto quanto uma mulher,
quanto  filhos e quanto ter um lar?
Desertar-me de toda convenção, 
declarar-me um sem patria, um sem nação,
errante, mergulhar profundamente nessa indisposição
aceitar que ela me leve ao fundo,
consuma-me ao ponto em que
um calice de vinho do Porto,
seja toda rendição. 









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