domingo, 19 de novembro de 2006

Marinheiro Em cada mulher porto eu poderia ficar atracado por um ano inteiro ou descuidado por toda uma vida, tomando os ventos que não se repetem, no ritmo constante das marés. Em cada mulher porto,
ó marinheiro, existem tantos motivos vida inteira não seria bastante, para tudo conhecer e explorar, mil razões para ficar. Em cada mulher porto, tantos santuários, delicadezas sutis, lóbulos de orelhas, curvas de pescoços, planos e altos, planicies extensas de lento percorrer.
Sorrisos, caras e bocas, palavras, sons e humores, doçuras de menina, jeitos de mãe cuidando da gente, garras felinas que lavram o corpo, imprimindo marcas que não desaparecerão jamais. Em cada mulher porto, a ancora atracada geme gozos incontroláveis de um barco esquecido de sua sorte de navegar, olvidado das pelejas, tantas ondas a cortar. Em cada mulher porto a escolha decisão: desistir de ser barco fazer-se barro, encalhado até as ameias encher-se das caracas e no lodo amalgamar-se tornar-se uno com o fundo seco do mar. Ou partir, lançar-se ao mundo, soltar amarras, desfraldar velas, zarpar, zunir nas tempestades acoitado pelos elementos, vagarosamente deixar-se levar por calmarias e indolências num mar, silêncios profundos, que espelha e brilha, céu azul. O que ser barco nunca escolhe, marinheiro,
é rumar em destino a algum porto-lugar,
atavico desejo de se atracar. Que a barcos e portos, a portos e barcos, desde o tempo dos tempos, outra escolha não se oferece
e não conhecem outro drama que possam, outro, encenar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu