domingo, 20 de março de 2011

Fé, menina!

 
esse feminino que você tem
assim tão dissimulada
que nem parece querer ser ninguem
que não seja aquela que você é
como se fosse tudo pura brincadeira
de se fazer querer pela sugestão
de um mais além, do seu ser
(vai saber, quem?)
Esse feminino mesmo
me assanha a sanha
de olhar por debaixo da sua saia
só para te ver corar de falsa vergonha,
desvelando o segredo da cuidadosa cor
escolhida hoje, mais para enfeitar
do que para cobrir a sua preciosa flor.
conversar com você, olhando para que você veja
que eu olho para o vê do seu decote
atento ao encontro dos seus alvos montes
que mostras como se eles não te pertencesssem
e não estivessem ali com o unico proposito
de estar à disposição de meu escandaloso olhar.
este teu feminino dos corpetes bordados
com traços tão ingenuos e pueris,
a despeito dos ares de muher madura e culta
com que preferes me inspirar,
nas unhas pintadas de um vermelho tão forte
que só mais ressaltam, o tom tão alvo
da pele de sua mão e de toda mais pele,
pressumo, via lactea ocultada,
corpo vestido a olhos nús.
este feminino dos olhos teus,  da cor de mel
que olham sem olhar, me atiçam 
por debaixo dessas molduras,
negras e grossas sombrancelhas e parecem pedir,
parecem querer um homem que te faça mulher
que arranque de ti o teu saber sobre o silêncio
fazendo ecoar, aos badalos do sino,
as sinfonias mais raras, tocadas por suas carnes trêmulas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

mandacaru sem flor

 

cacimba seca, útero retorcido
vazio se encontra o meu saco de palavras
como se elas me fossem completas estranhas
e nenhuma nunca houvesse me habitado
nas entranhas: zero intimidade entre nós.
entre elas e eu, mandacaru solitário
que espera em vão, a beleza da branca flor,
que até mesmo a brasa do sol estéril
faz parir para alegrar o cinzento do sertão.
cinzas no meu coração calcinado,
secura na alma, aridez do cotidiano
monotonia do sempre igual, umidades raras
ah! que saudades da umidade
tempos de coloridas emoções
entusiasmos pueris, sentido de pertencer,
pertencer a um mundo cheio de sentidos.
Mas eu ,eu por ora, não sinto nada
e escrever estes versos, puro sacrilégio
de quem escreve, burocrata da palavra,
só para não ser expulso da profissão.
deveriam haver leis que proibissem
estes atos de poetas insensatos
para que toda secura fosse sorvida até o fim
castigo merecido, voto de silencio decretado
para os que, como eu, desdenham do oficio,
quando jorram aos borbotões, invadidos por
sagrada inspiração. perdão! perdão!


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